Fetiches são hereditários?

Fala pessoal, tudo certinho?

Hoje vamos falar sobre um assunto que eu nunca tinha parado pra pensar até alguns meses atrás, quando me deparei com uma thread no Twitter que perguntava: “Fetiches podem ser hereditários?” Desde então, essa pergunta ficou martelando na minha cabeça: de onde será que vem o que a gente deseja? Será que é genética? Trauma? Ou só influência de um pornô que vimos na adolescência? 

Bom se isso já aconteceu contigo, estamos juntos nessa e neste post, vou falar sobre o que a ciência já descobriu sobre isso, e como fatores como genética, personalidade e ambiente moldam nossas fantasias.

Antes de mais nada: o que é fetiche 

Bom, pra começar essa conversa, a gente precisa saber do que estamos falando. Afinal, se vamos investigar se algo é herdado, precisamos entender o que exatamente é esse “algo”.

Fetiche é quando uma parte do corpo, objeto ou situação vira o foco principal da excitação sexual. Não é só gostar, é precisar daquilo pra se excitar ou atingir o prazer. Pode ser um pé, couro, cocô, gases, fraldas, roleplay de médico, o cheiro de cigarro, entre outros tantos que existem por aí. Já os kinks são as mesmas práticas sexuais, mas que não exigem esse grau de fixação.

Entender essa diferença não é só semântica, é essencial pra saber o que estamos tentando explicar. Porque se for uma atração ocasional, talvez o buraco não seja genético. Mas se for algo constante, estruturante, que acompanha a pessoa por anos… aí sim vale a pena perguntar de onde vem.

Como diz o psicólogo Justin Lehmiller, no livro Tell Me What You Want (2018): As fantasias sexuais são moldadas por um mix de biologia, história pessoal e cultura. Entender isso nos ajuda a tirar a culpa de cima da mesa.


O DNA dá conta do recado?

Quando o assunto é comportamento humano, tudo é meio zona cinzenta. Mas vamos aos dados.

Em 1994, um estudo publicado na Archives of Sexual Behavior analisou gêmeos idênticos e fraternos para investigar padrões de comportamento sexual. A constatação? Gêmeos idênticos (que compartilham 100% dos genes) tendem a ter mais semelhanças em suas práticas sexuais do que gêmeos fraternos. Isso não prova que existe um “gene do fetiche”, mas aponta que há sim uma influência genética no comportamento sexual.

Mais recentemente, em 2019, uma análise publicada na Nature Human Behaviour com quase 500 mil pessoas encontrou ligações genéticas com comportamentos sexuais, como idade da primeira relação e orientação sexual, mas reforçou que nenhum gene sozinho determina essas características.

Ou seja: se você herdou algo, foi mais uma predisposição a certos traços (como o gosto por novidade ou sensibilidade corporal), do que o desejo específico por um determinado tipo de prática.

Mas não é só genética, a personalidade entra forte também

Quem você é também pesa. Traços de personalidade como “abertura à experiência” e “busca por sensações”, ambos com influência genética parcial, são altamente ligados ao interesse por práticas sexuais não convencionais.

O psicólogo Michael Seto, referência no estudo de parafilias, explica que pessoas mais impulsivas, criativas e com maior tolerância ao risco têm maior chance de explorar sexualmente o “fora da curva”. E esses traços, sim, podem vir de fábrica.

É aí que começa a surgir uma ponte importante: a genética influencia a personalidade, que por sua vez influencia nossos desejos. Mas isso ainda não é o bastante. Porque o que você vive também conta.


Ambiente conta (e como conta)

Se a genética é o código, o ambiente é o interpretador. É ele quem dá contexto, sabor e direção ao que poderia ficar só no potencial.

Sim, experiências na infância têm um peso importante, mas não só elas. Tudo que a gente vive, sente, vê, ouve, aprende e presencia ao longo da vida pode influenciar a maneira como o desejo se manifesta. A educação sexual que tivemos (ou não tivemos), a cultura da nossa época, os filmes que assistimos, os limites que nos ensinaram, os prazeres que descobrimos por acaso… tudo isso entra no caldeirão.

A pesquisadora Lisa Diamond, da Universidade de Utah, defende que a sexualidade humana é altamente plástica e responde ao ambiente de forma dinâmica.

“A sexualidade não é uma linha reta; é um organismo vivo que se adapta, aprende, ressignifica.”

Teorias psicanalíticas (como as de Freud, Lacan e outros) também apontam que muitos fetiches nascem de associações afetivas com objetos, situações ou sensações. Uma experiência intensa, seja prazerosa ou desconfortável, pode fixar uma ideia erótica na mente.

Além disso, o contexto social e cultural também influencia o que é visto como excitante ou desviante. Um fetiche reprimido em uma cultura pode florescer em outra. Um desejo que era tabu há 20 anos, hoje vira tag no Xvideos.

Tudo isso mostra que o ambiente não é só pano de fundo: ele ativa, molda, esculpe e até transforma desejos.

Juntando as peças: o que herdei e o que aprendi?

Agora que a gente viu os três pilares, genética, personalidade e ambiente, dá pra começar a amarrar tudo.

Você pode ter herdado uma maior sensibilidade tátil, uma tendência a buscar estímulos intensos, ou uma mente mais aberta à experimentação. Mas isso não quer dizer que você herdou literalmente o fetiche por couro ou golden shower. O que acontece é que seu jeitinho de ser, somado às suas experiências de vida, criou uma trilha neural única. E é nessa trilha que seu desejo corre.

Nossos desejos são como playlists no modo aleatório: tem coisa que veio do nosso histórico, tem coisa que foi sugerida pelo algoritmo, e tem coisa que apareceu sem explicação, mas você curtiu e colocou no repeat.


Conclusão

Fetiches não são “culpa” da genética, da família ou de uma fase mal resolvida da infância. Eles são a soma de tudo que você é: corpo, mente, vivências, traumas, fantasias, memes, pornografia, e até o ex que você nunca superou.

E quer saber? Tá tudo bem. Seu desejo é só mais uma forma de expressão da sua humanidade. Não precisa justificar, só cuidar, respeitar e, se possível, compartilhar com quem topa a viagem com você.


1 Comment

  • tlover tonet , 9 de outubro de 2025

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