Seu desejo não tem crachá. O que te excita não é currículo. E, por favor, parem de confundir fantasia com identidade.
Oi gente, tudo certinho?
Hoje vou direto ao ponto: só porque alguém gosta de ser chamado de “puta” no sexo, não significa que quer ser tratada assim no trabalho. Gostar de dar uns tapinhas não faz de ninguém um brigão de bar. E, não, só porque alguém curte scat, não significa que não toma banho. Mas a sociedade insiste em rotular o desejo alheio.
Pois é, precisamos falar sobre isso. Sobre como o que acontece entre quatro paredes (ou onde quer que seja) não define quem a gente é no dia a dia. Sobre como fetiche não deveria ser sentença de caráter.
O que acontece entre 4 paredes, fica entre 4 paredes
A gente não é uma coisa só. Ninguém é. Somos um mosaico ambulante de versões diferentes: a que vai pro trabalho, a que almoça com a família, a que manda áudio de 7 minutos pro amigo e a que sente prazer com coisas que, talvez, nunca vá confessar publicamente. E isso tá longe de ser hipocrisia, isso é humano.
O sociólogo Erving Goffman já dizia que a vida é um teatro: a gente se apresenta de um jeito pra cada plateia. E isso não significa que uma versão seja mais “real” do que a outra, significa que somos complexos. Bom, se o fetiche é um teatro, é um teatro de portas fechadas. E o que acontece ali só diz respeito a quem tá dentro. Fim!
Mas vamos lá, um guia rápido de mitos e realidades:
- Gosta de ser xingado? Legal! Isso não significa que quer ser desrespeitado na rua.
- Gosta de ser chamada de “puta”? Ok! Não tem nada a ver com a profissão. É um jogo erótico.
- Curte scat ou Golden shower? Beleza! Isso não significa que não toma banho ou que não tem higiene.
- Gosta de apanhar no sexo? Tá ótimo! Isso não significa que é violento ou quer apanhar na vida real.
O problema é que muita gente vê o desejo dos outros como se fosse uma identidade fixa, quando, na real, fetiche é só isso: fetiche. Uma peça do quebra-cabeça, não o tabuleiro inteiro.
Privacidade sexual
E se descobrirem? E se vazarem? E se julgarem? A ideia de que a sexualidade pode ser usada contra alguém é uma violência silenciosa, e real. A internet adora transformar fetiches em piada, bullying (Lembram do Gustavo scat?), expor desejos como se fossem falhas de caráter. Mas a verdade é que o que te excita não define seu valor (a não ser que seja crime né!).
No fundo, esse medo de exposição tem raiz na hipocrisia social: a sociedade consome pornografia como quem bebe água, mas tem horror de admitir. E, cá entre nós: ninguém é santo na cama, e quem jura que é, tá mentindo.
O mito da pessoa “normal”
Normalidade sexual é uma ficção muito bem contada. Criaram essa ideia de que existe um “certo” e um “errado” na cama, mas, se fosse assim, metade dos desejos humanos seriam crimes. A verdade? Todo mundo tem um segredo. O que muda é o que é revelado e o que é escondido.
O filósofo Michel Foucault já destrinchava isso: a sociedade sempre usou o sexo como ferramenta de controle. Quem foge do script da “moralidade” vira alvo.
Mas se formos honestos, veremos que o fetiche é mais normal do que se pensa. O problema nunca foi o desejo, o problema sempre foi o julgamento.
Se tem uma coisa que eu queria que você levasse desse texto, é isso: você não é só o que te excita. Nem seu desejo, nem seu medo, nem o julgamento dos outros. Você é o todo, e seu fetiche é só uma peça desse quebra-cabeça. Seus desejos são válidos. Eles são uma parte de você, mas não definem quem você é.
E aí, o que você achou?
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